Na década de 70, enquanto Falcão trocava passes de cabeça com Escurinho e o Manto Sagrado Escarlate já era Tri Campeão Brasileiro uma cantora fazia sucesso nas paradas musicais. Perla era o nome dela. Uma Paraguaia que aos 20 anos separou-se da família e veio tentar a sorte no Brasil. Um de seus maiores sucessos era o que falava sobre um lago azul. Não, não era um barco. Ela também falou sobre um barco azul, mas em outra música. O lago azul da música era um famoso, que ficava perto da cidade que ela nasceu, o Lago azul de Ypacaraí. E Recuerdos de Ypacaraí foi sucesso. Era composta de versos de amor, que falava de uma canção triste entoada em uma noite como a de hoje: uma noite linda.
Acho que Cunhataí, a protagonista da triste canção de Perla, podia ter estado a beira de um outro lago, que todos nós chamamos de rio. Ela ia ver também cenas tristes de um rival que só não digo que quando perde no placar perde também a elegância, porque elegância não é um dos predicados dele. Arrogância, prepotência e uma pseudo auto suficiência sempre foram características lá para as bandas da Azenha. E hoje não foi diferente: ao sentir o Rolo Compressor começar a amassar o seus ossos, eles já deram um jeito de armar o circo da violência e do destempero. Polícia em campo, agressões, reservas em campo, ofensas.... não era jogo decisivo de segunda divisão, mas o que esperar de quem está acostumado a freqüentar esse tipo de ambiente e se orgulhar disso ao ponto de editar um DVD ?
Mas esse parelha teve início aos quatro. Não estamos falando do número de patas de um cavalo, mas do número de minutos. Aos quatro minutos D´Alessandro pegou o relho e da intermediária abriu os trabalhos do dia que já se transformava em noite. E novamente ele, com toda malícia Argentina cobrou com rapidez a falta que colocou Alex de frente para o gol adversário para, com categoria, botar a bola por entre as pernas do melhor goleiro de todos os tempos da última semana.
Era uma noite triste para os egressos da divisão de acesso: ele sempre fica na segunda trave e pega o rebote do primeiro cabeceio. Mas hoje ele resolveu ficar na primeira e desviar de surpresa: mais um do Pele Vermelha Colorado estufando as já a acostumadas redes azuis.
Qualquer um que tivesse o sangue colorado nas veias já estaria satisfeito com o que estava acontecendo no Gigante que a essa altura trepidava e fazia ondas de desespero no lago azul que em campo levava mais um do menino gigante Nilmar. E o melhor ainda estava por vir.
Foram dois intermináveis minutos. Dois minutos que valeram por todo campeonato até aqui. O “campeão por antecedência”, o fenômeno dos pampas, a máquina que ia ser passada no relvado verde do Beira Rio, estava na roda. Inerte, o rival assistia o time Colorado trocar passes enquanto as arquibancadas pintadas de vermelho sangue gritavam “Olé”.
E , diferente de 40 mil colorados que estavam presentes no apito final do Juíz, ou melhor, quando cruzamos o disco de chegada , Cunhataí continuou triste na música da paraguaia Perla: ela tinha perdido as esperanças de achar o seu amor, que havia partido em um cavalo.
